Os mercados financeiros acalmaram, depois da forte turbulência sentida com o colapso do Silicon Valley, nos EUA, e da crise financeira no Credit Suisse, na Europa. Mas a inflação na Zona Euro subiu para 7% em abril, depois caído durante seis meses consecutivos, e a inflação subjacente continua elevada. Foi perante este cenário que o Banco Central Europeu (BCE) decidiu esta quinta-feira, dia 4 de maio, voltar a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base, abrandando, assim, o ritmo de subidas registado nas últimas reuniões.
Tal com alertaram vários governadores europeus, o BCE voltou a subir as taxas de juro diretoras na reunião de política monetária desta quinta-feira. Desta vez, o Conselho do BCE decidiu abrandar o ritmo de subida dos juros diretores para 25 pontos base, elevando a principal taxa de refinanciamento para os 3,75%, o maior valor registado desde outubro de 2008. Recorde-se que na reunião de 16 março, o aumento dos juros foi de 50 pontos.
Com este novo aumento de 25 pontos base esta quinta-feira anunciado pelo BCE, as três taxas de juro diretoras passam a ser as seguintes a partir de meados de maio:
- Taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa de 3,50% para 3,75%
- Taxa aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez passa de 3,75% para 4%;
- Taxa aplicada à facilidade permanente de depósitos passa de 3,00% para 3,25%.
Com a subida de 375 pontos base registada em menos de um ano (entre julho de 2022 e maio de 2023) – que foi a mais rápida desde a sua criação em 1999 -, as taxas de juro diretoras continuam, assim, nos níveis mais elevados dos últimos 15 anos, quando rebentou a crise financeira no final de 2008.

Um aumento, como todos os outros até agora, que terá impacto direto nas famílias que contraíram crédito habitação em Portugal, comparativamente com outros países europeus, visto que a subida dos juros “será mais sentida” nos contratos com taxa variável. Segundo o mesmo responsável, o impacto na evolução das taxas Euribor é, no entanto, “incerto”, pois é possível que o mercado interprete que o fim das subidas dos juros está a aproximar-se.
BCE junta-se ao grupo restrito de bancos centrais que voltou a subir juros
À semelhança das reuniões anteriores, o regulador liderado por Christine Lagarde assume que continuar a endurecer a política monetária no espaço europeu é necessário, porque “projeta‑se que a inflação permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo”, disse o Conselho do BCE no comunicado publicado após a reunião de 16 de março.
Esta quinta-feira, na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio de um novo aumento dos juros, Lagarde avisou que, de forma a continuar a combater a escalada da taxa de inflação, a autoridade monetária vai recorrer ao aumento de juros.
A verdade é que a inflação na Zona Euro tem dado sinais de descida entre outubro de 2022 e março de 2023, refletindo os efeitos do aperto da política monetária. Mas, segundo a estimativa rápida do Eurostat, esta taxa interrompeu o ciclo de quedas registado em seis meses, subindo para 7% em abril (em março situou-se nos 6,9%). E a inflação subjacente, que exclui os preços da energia e dos alimentos, baixou apenas uma décima para 5,6%, sendo esta a primeira descida em vários meses.
Perante este cenário e numa altura em que a situação nos mercados financeiros acalmou, o BCE continua, com esta nova subida dos juros diretores, empenhado em baixar a inflação na Zona Euro até ao patamar dos 2%, de forma a ser assegurada a estabilidade dos preços.
Com esta decisão de política monetária, o BCE junta-se, assim, ao grupo restrito de bancos centrais que optou por subir os juros diretores no último mês. Entre os 36 bancos centrais do mundo que tomaram decisões de política monetária em abril, só 11 optaram por subir as taxas de juro de referência (menos 17 do que no mês anterior), escreve o Expresso. A Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed), à semelhança do BCE, também subiu as taxas de juro em 25 pontos base.
A tendência na política monetária mudou em vários pontos do mundo, já que 25 bancos centrais decidiram fazer uma pausa ao ciclo de subida das taxas de juro em abril, para avaliar o risco de recessão económica e os efeitos do encarecimento dos créditos (habitação) na sociedade. Foi o caso do Banco da Reserva da Austrália, do Banco do Canadá e do Banco Popular da China, por exemplo.

Subida dos juros retraem concessão de crédito habitação
Um pouco por toda a Europa, já se sentem os efeitos da subida das taxas de juro diretoras na concessão de créditos. No primeiro trimestre de 2023, foi observada uma queda nos pedidos de empréstimos de empresas e de créditos habitação, segundo os dados o próprio regulador europeu publicados esta semana citados pela Lusa. E os bancos antecipam ainda uma nova descida acentuada nos pedidos de crédito (habitação) nos próximos meses.
Esta realidade tem sido sentida também em Portugal, onde a concessão de crédito habitação desacelerou em março pelo oitavo mês consecutivo, registando um stock de 99.700 milhões de euros (menos 100 milhões do que no final de fevereiro), segundo apontou o Banco de Portugal (BdP) esta terça-feira, dia 2 de maio.
Por detrás desta queda está precisamente a subida das taxas de juro diretoras, que acabam por aumentar os custos de financiamento bancário no nosso país. “O nível geral das taxas de juro contribuiu fortemente para reduzir a procura de empréstimos à habitação, ao qual se juntou, em menor grau, a confiança dos consumidores e as perspetivas do mercado da habitação e um contributo ligeiro do regime regulamentar e fiscal dos mercados de habitação”, admitiu o regulador português liderado por Mário Centeno.
Hoje, as taxas Euribor já estão acima dos 3% e a aproximarem-se cada vez mais dos 4%. E as taxas fixas para os novos empréstimos habitação também parecem acompanhar esta evolução, porque os bancos vão ajustando a oferta ao preço do dinheiro definido pelo BCE. Por isso mesmo, pedir financiamento bancário para comprar casa está mais caro e menos atrativo.
Ora, este novo aumento das taxas de juro diretoras – tal como todos os outros até agora – deverá voltar a impactar os bolsos das famílias, sobretudo, as que estão a pagar empréstimos da casa de taxa variável. Isto porque a subida das taxas Euribor anda de mãos dadas com a evolução dos juros diretores do BCE, elevando as prestações da casa assim que forem atualizadas.

Quando vai chegar ao fim o ciclo de subida dos juros do BCE?
Ninguém sabe ao certo até quando o BCE vai continuar a subir as taxas de juro diretoras. O que se sabe – e o que Christine Lagarde tem vindo a repetir ao longo das reuniões – é que as decisões de política monetária vão sendo tomadas consoante evoluem os indicadores económicos e financeiros, nomeadamente a inflação (subjacente).
Portanto, enquanto a inflação estiver elevada e bem acima de 2%, o regulador europeu deverá continuar a subir as taxas de juro diretoras. “É muito cedo para falar em parar” de subir as taxas de juro diretoras, garante Klaas Knot, governador do Banco da Holanda. O “falcão” do Conselho de Governadores do BCE tem-se mostrado favorável à subida das taxas de juro diretoras nas reuniões agendadas para junho e julho, se a inflação subjacente não mostrar sinais claros de descida.
Isto porque, segundo diz Klaas Knot, a atual política monetária “não será suficiente” para mover uma taxa subjacente hoje próxima de 6%, motivo pelo qual considera necessário adotar uma postura “suficientemente restritiva”. “Não sei qual é o patamar que será suficientemente restritivo, mas claramente não é onde estamos hoje”, alertou.
Os analistas do Unicredit admitem que, apesar de o BCE ter abrandando a subida dos juros para 25 pontos base, há a possibilidade de o regulador vir a optar por um aumento mais forte nas próximas reuniões de política monetária, de 50 pontos base.
“O BCE continua a depender dos dados e é provável que continuem as subidas das taxas”, admitiu também Ulrike Kastens, economista do grupo DWS, sublinhando que “há que reconhecer que a taxa de inflação continua demasiado alta”, cita a Lusa.
Fonte: https://www.idealista.pt/news/financas/economia/2023/05/04/57723-bce-abranda-subida-de-juros-diretores-para-25-pontos-base