Crédito Habitação

Com a Euribor a 12 meses a aproximar-se dos 3%, as famílias e os bancos começam a procurar alternativas nos empréstimos da casa.

Nos últimos anos, as famílias que contrataram crédito habitação de taxa variável para comprar casa optavam, sobretudo, pela Euribor a 12 meses. Mas com a atual subida das taxas Euribor para todos os prazos, esta tendência está a mudar. Agora, as famílias voltam a estar olhos postos nas Euribor a 6 meses – que está a subir, mas a menor velocidade – e até nas taxas fixas, que dão maior estabilidade. Está é uma realidade sentida por várias instituições bancárias e intermediários de crédito em Portugal.

A subida das taxas de juro nos empréstimos da casa tem sido uma preocupação das famílias e dos países. Tanto que o Governo português aprovou um diploma que permite renegociar os créditos habitação de taxa variável, segundo determinados critérios, para mitigar os efeitos destes aumentos. Até porque tudo indica que os juros vão continuar a aumentar. As previsões económicas da Comissão Europeia abrem, aliás, a porta a novas subidas dos juros diretores pelo Banco Central Europeu (BCE), que depois se refletem na Euribor.

Isto porque o executivo comunitário estima novos máximos históricos da inflação para 2022, com os preços na Zona Euro a subirem 8,5% e na na União Europeia (UE) 9,3%, revelou na sexta-feira. Em Portugal, a CE estima que a inflação se fixe nos 8% no final do ano, uma estimativa mais pessimista do que a do Governo (7,4%). Se estas previsões se confirmarem, o regulador europeu fará de tudo para baixar a inflação, o que implica novas subidas das taxas de juro diretoras – que já foram, aliás, anunciadas pelo guardião do euro como medida de política monetária para travar a inflação. De julho até outubro, o BCE já subiu estes juros em 200 pontos base, colocando a taxa de refinanciamento nos 2%. E, em resultado, a Euribor continua a subir a todo o vapor, agravando as prestações da casa de quem tem empréstimos de taxa variável.

Euribor a 3 e a 6 meses está mais atrativa: porquê?

É certo que as taxas Euribor estão a subir para todos os prazos desde o início do ano, em reação aos aumentos da taxa de juro diretora pelo BCE. Mas nem todas evoluem à mesma velocidade, sendo a Euribor a 12 meses a que está a aumentar a um ritmo mais rápido, tendo atingido a média de 2,629% em outubro. A Euribor a 6 meses e a 3 meses continuam, para já, em níveis inferiores, tendo-se fixado em 1,997% e 1,428%, respetivamente.

Isto significa que quem contratar um crédito habitação de taxa variável com a Euribor a 12 meses vai pagar mais juros do que nos outros prazos, muito embora a prestação da casa só seja revista anualmente. Este cenário leva a que as famílias e os próprios bancos comecem a olhar com atenção para as outras opções, como a taxa variável com a Euribor a 3 ou a 6 meses.

É isso mesmo que confirma Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal: “Vários bancos estão a começar a alterar o indexante utilizado para Euribor a 3 meses ou 6 meses, em detrimento da Euribor a 12 meses. Se numa fase inicial a prestação da casa é mais baixa para empréstimos com taxas Euribor a 3 e 6 meses, estes também refletem mais depressa o aumento de taxa, já que são revistos em menos tempo”, trimestral e semestralmente, explica o responsável.

Os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP) também mostram que a Euribor a 6 meses está a ganhar terreno. Nos novos contratos de crédito habitação concedidos em setembro – que, juntos, somaram 1.338 milhões de euros – cerca de 42% do montante utilizou a Euribor revista em cada seis meses. Este é um valor 14 pontos percentuais superior à percentagem da Euribor a 6 meses existente no stock de empréstimos habitação que estava “vivo” no final de setembro (28%).

Já a Euribor a 3 meses tem sido a taxa menos utilizada nas novas operações de empréstimo da casa, representando apenas 5% do montante concedido em setembro. No total de stock de créditos habitação, esta taxa representava 22% do montante, refere o BdP.

Apesar de já se estar a sentir uma mudança na estratégia dos bancos e no apetite das famílias, a Euribor a 12 meses continua a ser a taxa mais contratada. De acordo com os mesmos dados, cerca de 45% do montante dos novos contratos usaram esta taxa revista anualmente. E no stock total de empréstimos habitação representa 43% do montante, sendo este o “indexante mais comum”, refere o regulador liderado por Mário Centeno na mesma publicação.

Taxa fixa: uma nova solução para as famílias?

Os dados mostram que a grande maioria dos créditos habitação em Portugal são de taxa variável e indexada à Euribor. Mas há cada vez mais famílias a optar pela taxa fixa em Portugal, segundo aponta o próprio regulador português: “A proporção dos empréstimos com taxa fixa tem vindo gradualmente a aumentar desde 2016. Esta tendência permitirá mitigar parcialmente o impacto sobre o serviço de dívida dos mutuários e, consequentemente, o risco de crédito para os bancos”, lê-se no Relatório de Estabilidade Financeira de junho de 2022.

Optar pela taxa fixa tem, desde logo, uma vantagem e uma desvantagem. A boa notícia é que os juros não mexem desde o início ao fim do contrato, pelo que a família irá sempre pagar a mesma prestação da casa mesmo que haja flutuações do mercado. Já a má notícia é que, geralmente, as taxas fixas são mais caras do que as variáveis. Este é o preço a pagar pela estabilidade financeira no longo prazo.

As taxas fixas – que representam a maioria do montante que consta na categoria “outros”, segundo o BdP – foram concedidas a cerca de 8% dos 1,338 milhões de euros empresados pelos bancos em setembro. E é um ponto percentual superior ao seu peso no stock total de créditos habitação.

Os próprios bancos também começam a estar de olhos postos nas taxas fixas por outro motivo: os créditos habitação são mais fáceis de aprovar, sobretudo, quando os particulares têm rendimentos mais baixos. Isto acontece porque no cálculo da taxa de esforço não é preciso somar a taxa extra de 3%, dado que o valor da prestação não vai sofrer alterações durante o período do contrato. Recorde-se que esta taxa extra é inserida no cálculo da taxa de esforço dos créditos habitação de taxa variável como uma margem de segurança.

Há também cada vez mais famílias de olho nas taxas mistas. Isto porque têm a possibilidade de fixar os juros durante os primeiros anos do empréstimo e, depois, passar a taxa variável. Desta forma, os particulares deixam a tempestade económica passar e esperam nova estabilidade no futuro, embora seja incerto. Neste caso, o cálculo da taxa de esforço contabiliza a taxa extra de 3% para o período em que o crédito passa a estar vinculado à Euribor.

Fonte: https://www.idealista.pt/news/financas/credito-a-habitacao/2022/11/11/54860-credito-habitacao-familias-apostam-na-euribor-a-6-meses-e-taxa-fixa

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