Como é que a subida de preços está a impactar os bolsos dos portugueses? Explicamos tudo, ponto por ponto.
Os preços de bens e serviços costumam ser atualizados no início de cada ano. Mas a espiral inflacionista que está a assolar a Europa está a fazer com que esta atualização se antecipe. No nosso país, a inflação fixou-se em 9,0% em agosto (9,1% em julho), de acordo com os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE). E isso reflete-se na subida do custo dos cestos de compras no supermercado assim como no aumento das rendas, das contas da luz e do gás, dos combustíveis, das faturas na restauração até às atividades de lazer. Foi por isso que o Governo português apresentou esta segunda-feira, dia 5 de setembro, um pacote de medidas para ajudar os portugueses a mitigar os efeitos da inflação nos seus orçamentos familiares. Mas quanto estão a subir os preços dos bens e serviços em concreto? Contamos tudo neste artigo.
Todos os bens e serviços relacionados com a energia e a alimentação são os que mais têm pesado nos bolsos dos portugueses e assim vai continuar em setembro. E embora os produtos energéticos e alimentares sejam mais vulneráveis às alterações da economia mundial, o Banco de Portugal já alertou que a inflação está a contagiar bens e serviços, que têm preços historicamente mais estáveis. São exemplo alguns serviços de educação e saúde, as rendas e os restaurantes e cafés.

Subida de preços generalizada nos vários ramos da economia
Mas como é que a inflação está a aumentar os preços dos vários ramos da economia portuguesa? Explicamos ponto por ponto:
Crédito habitação mais caro por via da subida dos juros
Quem comprou uma casa com recurso a financiamento bancário, mais tarde ou mais cedo, verá a prestação da casa subir – isto se o crédito habitação estiver indexado à Euribor. Assim, se o empréstimo estiver associado à Euribor a 12 meses e for revisto em agosto, será aplicada uma taxa de 1,249% nos doze meses seguintes. E se a taxa contratada for a Euribor a 6 meses, os juros passarão a contabilizar 0,837%. Em ambos os casos, as famílias vão ver a prestação da casa subir várias dezenas de euros, tal como simulamos aqui.
Sobre este ponto, o Governo ainda não anunciou uma medida em concreto, mas o ministro da Habitação, Pedro Nuno Santos, avançou esta terça-feira, dia 6 de setembro, que o Executivo socialista está “preparado” para avançar com mais medidas para lidar com as prestações do crédito habitação e com o aumento das taxas de juro.
Comprar casa: preços continuam a subir
Quem já tinha nos planos adquirir uma habitação está a acelerar o processo, dando origem à corrida ao mercado residencial. Entre janeiro e março de 2022, transacionaram-se 43.544 habitações, o que representa uma taxa de variação homóloga de 25,8%, revelou o INE em junho. Isto acontece porque os preços das casas subiram 17,2% nos primeiros três meses de 2022 face ao mesmo período do ano passado.
Em termos medianos, comprar casa custava 1.241 euros por metro quadrado (euros/m2) entre janeiro e março de 2021 e no mesmo período de 2022 custou 1.454 euros/m2 (ou seja, mais 213 euros/m2). Esta tendência de subida dos custos de comprar uma habitação está a agravar-se dada a escassez de mão de obra na construção e o aumento dos preços dos materiais.
Rendas das casas: aumentos limitados em 2023
Os inquilinos podem respirar de alívio até ao final do ano. E agora o Governo liderado por António Costa veio limitar a atualização das rendas das habitação em 2023 em 2% – note-se que o índice de atualizações de rendas para o próximo ano já estava nos 5,43% tendo sido impulsionado pela inflação.
Mas quem quiser arrendar uma casa hoje irá deparar-se com o mercado ainda mais inflacionado também por via do desequilíbrio entre a oferta e a procura: as rendas aumentaram 2,7% em julho de 2022 face ao mesmo mês de 2021, apontam os dados mais recentes do INE. E os dados mais recentes do idealista, indicam que arrendar casa em Portugal ficou 1,4% mais caro em agosto face ao mês anterior.

Regresso às aulas: custos aumentaram 16% face a 2021
Embora nas escolas públicas os alunos tenham os livros gratuitos até ao 12.º ano, há outros materiais escolares que é necessário comprar para iniciar o ano letivo. E esses também estão a encarecer. Segundo o Jornal de Notícias – que se baseia em vários estudo-, para comprar o material necessário são necessários, em média, 350 euros por aluno do ensino básico e 600 euros por aluno do secundário. Os custos com o regresso às aulas aumentaram cerca de 16% face ao ano passado, de acordo com a mesma publicação.
Cesto de compras no supermercado mais caro
Os alimentos estão cada vez mais caros, tanto por via a interrupção do abastecimento de cereais da Ucrânia e da Rússia, como pelo aumento do custo da energia e dos transportes necessários para produzir e fornecer os produtos, respetivamente. De acordo com o INE, o preço dos produtos alimentares não transformados aumentou 15,44% em termos homólogos em agosto (13,22% em julho).
E um estudo realizado pela consultora Kantar para a Centromarca – Associação Portuguesa de Empresas de Produtos de Marca – revelou em maio que o cesto de compras dos portugueses é o mais pequeno dos últimos quatro anos e está também mais caro. Só entre os primeiros três meses de 2022 e o mesmo período de 2019, o volume de compras caiu 2,8%.
Para fazer face a estes e outros aumentos do custo de vida dos portugueses, António Costa anunciou outros apoios que serão pagos em outubro:
Cheque no valor de 125 euros a cada cidadão não pensionista com rendimento até 2.700 euros brutos mensais. O pagamento do cheque será feito de forma automática por via das Finanças ou da Segurança Social;
Apoio de 50 euros às família com filhos até aos 24 anos (valor por descendente) pago também em outubro.
Pagamento de meia pensão extra aos pensionistas em 2022 e aumento das pensões em 2023.

Restauração: refeições nos restaurantes com ajustes no preço
Com os custos dos alimentos e da energia a aumentar, os custos das refeições também subiram. A secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto, apresentou em junho ao ministro da Economia “um vasto conjunto de medidas para apoiar as empresas da restauração” e simulares, para fazer “face aos efeitos perversos da situação pandémica e inflacionista”. Mas, até agora, as mesmas “ainda não tiveram acolhimento”, alertou citada pela Lusa.
Em Espanha, a subida da energia e das materiais primas levou a que dois em três restaurantes subisse o preço do menu do dia entre 5% e 10% no período de novembro de 2021 até abril de 2022, refere o El País.
Preço dos combustíveis: medidas em vigor são para manter
O Governo decretou descontos no ISP (Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos) no custo dos combustíveis, reduzindo o equivalente à aplicação de uma taxa de IVA de 13%. E esta medida será para manter até ao final do ano. Também a atualização da taxa de carbono vai continuar suspensa até ao final de dezembro. Ainda assim, dada o contexto da guerra da Ucrânia, o preço de venda do gasóleo simples agravou-se 10 cêntimos por litro esta semana, aumentando o preço para 1,88 euros/l. Já a gasolina deverá ter estabilizado os preços nos 1,78 euros/l.
Tendo em conta os preços praticados esta semana, em cada depósito de 50 litros, os consumidores pagarão menos 16 euros de gasolina ou de 14 euros de gasóleo do que pagariam se estas medidas não fossem renovadas.

Luz e gás mais caros: há mais medidas de apoio
Com a crise energética na Europa, os preços da eletricidade aumentaram em Portugal 35% na passada terça-feira, para 365,33 euros o megawatt por hora, o sexto mais caro de sempre, segundo dados oficiais. Para fazer face a este aumento, o Governo socialista decidiu reduzir o IVA no fornecimento de eletricidade dos atuais 13% para os 6%, uma medida em vigor até dezembro de 2023.
E no caso dos aumentos dos preços do gás, o Governo fixou preços máximos para cada botija. Uma garrafa de butano de 13 kg, por exemplo, terá como valor máximo 29,47 euros. Além disso, o Executivo de António Costa vai permitir aos consumidores de gás o regresso ao mercado regulado, anunciou esta segunda-feira. Assim, “um casal com dois filhos verá o preço da fatura diminuir 10% se mudar do mercado livre para o mercado regulado”, explicou o primeiro-ministro.
De notar que Portugal terá de reduzir 7% do consumo de gás entre os meses de agosto de 2022 e março de 2023, uma medida solidária com os países da Europa de forma a mitigar os efeitos de um possível corte de abastecimento de gás russo em solo europeu.
Empréstimos ao consumo a subir para fazer face às despesas
A subida descontrolada dos preços está a provocar o aumento dos empréstimos ao consumo de forma a pagar despesas, como materiais do regresso às aulas, férias e reformas com a casa. Os dados mais recentes do BdP revelam que o montante de empréstimos ao consumo tem vindo a subir em 2021 e 2022 e atingiu o máximo histórico em julho de 2022, tendo sido concedidos 20.325 milhões de euros. Também as taxas de juros têm estado superiores a 7,5% desde janeiro de 2022.

Fonte: https://www.idealista.pt/news/financas/economia/2022/09/07/53895-da-habitacao-a-energia-como-a-inflacao-impacta-o-custo-de-vida